sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Diário de design "Renascença" ─ dia 20

Essa nobreza francesa... só sacanagem!
Depois de enrolar um bocado finalmente assisti o longo filme francês A Rainha Margot. Apesar de considerar o filme um pouco arrastado, chato até, e com passagens de tempo muito confusas entre uma cena e outra, no geral deu para tirar algumas idéias interessantes do que se viu no filme.

Novamente, como já vimos em Cyrano de Bergerac, o romantismo aparece como um dos fatores importantes do gênero. Mas o que realmente vemos toda a hora em A Rainha Margot são os conflitos religiosos provenientes da Reforma protestante e principalmente as relações entre a degenerada nobreza européia do período: incesto, assassinatos, massacres, fratricídio, libertinagem e todo tipo de atrocidade é cometida ao bel prazer desses indivíduos. É essa tirania, afinal, que levaria à violenta Revolução Francesa ao final do século XVIII, sendo portanto indissociável de qualquer coisa que venha a escrever para o cenário a partir de agora.

Mas como eu poderia trabalhar com estes dois conceitos, conflitos religiosos dentro de uma mesma fé e tirania, dentro de jogo. Um conflito religioso de tal natureza é um elemento bastante delicado de se trabalhar, afinal, envolve dois grupos de pessoas de mesma fé matando uns aos outros por conta de diferenças de opinião com relação à prática da fé. É um treco triste, não entra no sistema de heroísmo padrão de Tormenta RPG, não é possível delimitar o lado "errado" da disputa e certamente não existe um lado "maligno" neste conceito. Então como poderei trabalhar isto num jogo que preza pelo heroísmo das ações dos personagens? Acho que tenho uma resposta, mas primeira vamos falar sobre o segundo conceito.

A tirania certamente é muito mais fácil de se lidar do que um conflito religioso. O tirano é um vilão que deve ser derrubado para o bem da nação. Ele é o último chefão de uma longa campanha de intriga palaciana ou de uma revolução liderada pelos heróis. Claro que existirão situações que nem tudo seja tão preto no branco, o tirano pode muito bem ser a única coisa segurando a etnia X em uma nação de massacrar a etnia Y, minoritária, e portanto sua existência, ainda que malévola, é necessária para a estabilidade social e política a curto e médio prazo, o que daria uma campanha mais cinza dentro do sistema de tendências de Tormenta RPG. Mas deixemos isso de lado por hora.

Lembram que disse que tinha uma ideia de como encaixar um conflito religioso na proposta de heroísmo do jogo? Hora de trabalharmos isto. A resposta, creio, é juntando os dois conceitos. Assim como Henrique VIII promoveu a Reforma protestante no Reino Unido para atender seus próprios interesses políticos, porque um tirano não poderia promover a segmentação de uma determinada religião para atender aos seus próprios propósitos? Entendam que, mesmo quando iniciadas por homens simples, uma reforma religiosa só pode, ou, ao menos, tem mais possibilidades de funcionar, com a adesão de homens poderosos à causa. Lutero teria sido morto e a História teria mudado de rumo, talvez, se os príncipes germânicos não o acolhessem e protegessem. Por isso é interessante, dentro deste cenário que estou construindo, a junção dos conceitos de tirania e conflito religioso em um único metaplot. já que isto permite, de uma vez só, resolver o problema do conflito religioso dentro de um jogo heroico e ainda trabalhar a verosimilhança da história do mundo.

A grande questão, neste momento, é se é necessário trabalhar o conceito para ser usado dentro da história da aventura ou deixar apenas como pano de fundo a ser trabalhado em algum produto futuro. Não me sinto confortável a trabalhar, em um produto como uma aventura, este conceito tão cheio de possibilidades, pois não sinto que conseguiria fazê-lo de maneira adequada dentro do espaço possível de usar para a ambientação da aventura. E quanto a vocês? Acreditam que é possível trabalhar o conceito suficientemente bem em poucos parágrafos? Ou tem outras idéias com relação à tirania e a conflitos religiosos?

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