domingo, 30 de outubro de 2011

Nosso Renascimento

Eu nem sei porque estou escrevendo isso aqui em vez de continuar com meus estudos, mas acho que mereço, de vez em quando, falar algumas coisas desnecessárias, certo? Então me acompanhem neste raciocínio e tentem não arrancar meus dedos se não concordarem com alguma coisa, ok? Então vamos lá passear um pouquinho pela minha visão da história do RPG no Brasil.

Os anos 1980 (ou a Pré-História)

Durante os anos 80 o RPG só era conhecido aqui no Brasil por universitários que tivessem passado um tempo lá fora ou tropeçado em algum livro importado em inglês, em geral AD&D. No fim dos anos 80 a Devir lançaria GURPS, o primeiro RPG em português do Brasil, que manteve esse título por um tempo ainda.

Os anos 1990 (ou a Antiguidade)

Por mais que alguns teimem em chamar essa de a "era de ouro" do RPG, a verdade é que não foi tão bom assim. Tínhamos uns poucos títulos centrais que representavam quase todo o mercado, como AD&D, Mundo das Trevas e GURPS, enquanto outros sistemas e cenários não conseguiam ir muito longe, raramente fazendo sucesso comercial, ainda assim, mantinha-se uma diversidade de gêneros. Desafio dos Bandeirantes, Tagmar, Millenia, Monstros, Defensores de Tóquio foram frutos nacionais dessa época, mas apenas o último sobreviveu e mantêm-se em atividade comercial até hoje (Tagmar mantêm-se em atividade não-comercial na internet com o projeto Tagmar II).

Resumindo, foi uma boa época em que boas idéias surgiram, mas foram incapazes de crescerem. Um terreno destes raramente poderia ser chamado de "era de ouro", certo?

Os anos 2000 (ou a Idade Média)

Não me entendam mal. Os anos 2000 foram ótimos do ponto de vista comercial, com dezenas de títulos lançados e um mercado em amadurecimento. Mas foram também quase uma década inteira de predomínio de praticamente um único sistema: o sistema d20. Assim como a Igreja Católica impediu o desenvolvimento de novas idéias na Europa por um longo período, a licença aberta abriu espaço para todo mundo pegar um pedaço da sua torta, que contudo só crescia a cada vez que alguém fazia isso. GURPS morreu nessa década. O Mundo das Trevas perdeu a força que tinha mas manteve-se no páreo, enquanto 3D&T cresceu e se tornou bastante popular. Fora estes poucos títulos foram lançados que trouxessem novas idéias para o mercado nacional.

Isso só começou a mudar em 2008 quando a Wizards of the Coast decidiu terminar a licença d20 com o lançamento da 4ª edição de D&D. Assim como a Igreja assinou o fim da idade média quando clamou pela realização das Cruzadas aos reinos cristãos, a Wizards fez um grande bem ao mercado brasileiro ao terminar a 3ª edição e a licença d20.

Os anos 2010 (o nosso Renascimento)

Com o fim da licença d20 cada autor de RPG e editora começou a se adaptar a nova realidade. Uns se amarraram à nova licença de uso de D&D, a GSL, outros tiveram uma estratégia mista e criaram variantes de D&D com a licença OGL e também trouxeram novos jogos para o mercado, e outros investiram no caminho dos jogos totalmente autorais.

É engraçado notar as correspondências entre o período histórico real e esse meu devaneio. O Renascimento tinha como uma das características a valorização da Antiguidade. Nós temos um movimento old-school forte rolando aqui e a volta de GURPS em sua 4e. Em vez de uma Igreja unificada, várias sob o comando dos estados nacionais. Nós temos 4D&D, Tormenta RPG, M&M, Daemon, Terra Devastada, Busca Final e 3D&T Alpha sob suas próprias licenças de publicação. A Itália era uma área cheia de pequenos estados independentes. Os RPGs indies são publicados hoje em dia diretamente por seus autores, sem a interferência de uma editora.

Muita viagem minha? Talvez. Mas vai dizer que você não consegue perceber isso também às vezes. Só estou colocando alguns pensamentos no papel, talvez algo esteja correto, pegue o precisar e construa sua opinião. :)

4 comentários:

  1. Você anda gostando MUITO das aulas de História Moderna, certo? :P

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  2. Uma boa síntese da história do RPG no Brasil. Uma vez tentei fazer uma cronologia do lançamento dos livros de RPG aqui, mas não consegui uma boa fonte de informação. O livro preto de RPG das aventuras fantásticas não saiu antes de GURPS? Nele não tem a data...

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  3. @Mário, eu ainda não estou tendo aulas de história moderna. :)

    @Hackbarth, acho que não, o Dungeoneer é da década de 90, acho.

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  4. Muito boa a analogia. Ótimo artigo, parabéns.

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