terça-feira, 18 de outubro de 2011

Diário de design "Renascença" ─ dia 3

Monalisa, de Leonardo Da Vinci
Ontem a noite li os três primeiros capítulos d'O Renascimento, do Nicolau Savcenko, e agora divido com vocês o fichamento parcial do texto com um comentários extras rpgísticos entre parenteses. O fichamento está dividido em tópicos, e para quem não conhece um fichamento é meio que um conjunto de notas sobre o texto destacando pontos importantes para melhor compreendê-lo.

  • Revolução Comercial. O Renascimento foi acima de tudo fruto de uma revolução comercial, possibilitada pelo fim do isolamento europeu. (O que significa muitos personagens exóticos possíveis...).
  • Declínio do feudalismo com a liberação dos servos. Pressões econômicas e sociais acabaram por por fim ao sistema de servos na maior parte da Europa, sendo substituído este sistema pelo arrendamento e pela mão-de-obra assalariada. (Mais pessoas livres, mais miséria, mais aventureiros tentando a sorte grande?).
  • Grandes navegações encontram a América e uma rota alternativa para o Oriente e para a África, implementando o comércio e aliviando a falta de ouro e prata. (Hmm, um continente exótico recém descoberto e conquistado? Veremos).
  • Fortalecimento das monarquias, que passam a ter a burguesia como sua base de poder, diminuindo o poder da nobreza e do clero. (Com exceção da Rússia, que permanece basicamente feudal até praticamente o século XX. Acho que é interessante manter uma nação tipicamente medieval dentro do cenário para possibilitar personagens anacrônicos).
  • "O momento histórico colocava em foco sobretudo a capacidade criativa da personalidade humana. O período é de grande inventividade técnica estimulada e estimuladora do desenvolvimento econômico. Criam-se novas técnicas de exploração agrícola e mineral, de fundição e metalurgia, de construção naval e navegação; de armamentos e de guerra. É o momento da invenção da Imprensa e de novos tipos de papel e tintas." (SEVCENKO, Nicolau. 1988). (Acho essa citação muito poderosa e extremamente importante para o clima que pretendo passar para o cenário).
  • Matemática! O contato mais profundo com a civilização islâmica permitiu à Europa a Revolução Comercial, pois sem os conhecimento matemáticos apropriados aprendidos dos árabes seria impossível realizar a contabilidade complexa das empresas mercantis e financeiras. A matemática também influência as artes plásticas através da escola platonista florentina, que se utiliza do conceito de uma harmonia matemática precisa. (Hmm, será que essa influência poderia criar uma espécie de magia matemática também? É um conceito muito legal e algo que vou considerar seriamente).
  • Mudança do conceito de tempo, em 1500 é inventado o relógio de bolso, marcando a matematização do tempo, até então marcado por dias, fases da lua, estações e o ano solar. Jornadas de trabalho passam a ser contabilizadas por número de horas trabalhadas. (Se a matematização do tempo é importante, porque não colocar ela como um fator determinante em alguma investigação de assassinato ou algo assim durante a aventura?)
  • Conflito entre os humanistas, intelectuais antropocentristas que buscam inspiração na Antiguidade para renovar a cultura européia, e a Igreja se intensificam. As perseguições geram um sentimento de solidariedade mútua entre os humanistas de toda a Europa, que apesar desse sentimento de universalidade são extremamente diversos entre si. Nota-se também uma influência árabe entre os pensadores do período para além da matemática. (Qual será o papel da religião no cenário? Poderes divinos existirão de verdade? E se, em vez de humanistas, por esta época aparecerem os magos, retirando o monopólio da magia como algo divino para algo inerente ao homem?).
  • Os humanistas fazem as primeiras defesas de uma sociedade civil como a única a emanar todo o poder político, ao contrário da crença medieval de que todo o poder político vinha de Deus e da Igreja.
  • A arte é um dos campos de batalha da burguesia contra o clero e a nobreza e acaba espelhando as inovações da época, como a anatomia e a matemática. O estilo renascentista acaba por fazer nascer um artista para além do simples artesão, exigindo um verdadeiro cientista completo, muito individualista. Esse individualismo acaba por condenar as corporações de ofício medievais. (Hmm, talvez uma classe de prestígio baseada no "artista renascentista"? Eles me lembram um pouco o Mestre do Conhecimento).
E aí, pessoal, curtiram? Ainda preciso terminar de fichar o resto do livro, então talvez muitas dessas considerações acabem mudando, quem sabe? Como sempre, estou aberto a quaisquer sugestões de vocês, vejo todo mundo nos comentários!

7 comentários:

  1. Isso tudo vai ser muito relevante para ambientar o clima do cenário! Por mais que sejam detalhes implicitos, serão fundamentais. Talvez, ler Nietzsche ajude na questão do antropocentrismo.

    Um reino medieval seria bem lógico na verdade, já que as mudanças nunca são iguais por todo o mundo.

    E o tema "liberdade" era realmente muito frequente, tanto no campo social, como no político e no comercial.

    Mas, já pensou como vai ficar a questão das raças e dos monstros no cenário? Um post sobre suas ideias seria interessante.

    Continue com o bom trabalho.

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  2. Acho que o Sevcenko é um pouco contundente quanto a ascensão da burguesia. Os grandes comerciantes agora certamente detém o poderio econômico, mas a política e o prestígio social continuam "cativos" dos nobres.

    E só pensar no Antigo Regime francês. Uma gigantesca "armadura" burocrática que privilegiava os nobres e o clero e colocava pra escanteio os demais (Isso tudo acaba culminando na Revolução Francesa afinal...)

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  3. Afastando um pouco da visão francesa, acho a renascença italiana bem interessante. Isso por que você não tinha um estado só, coeso, mantido por um rei autoritário e seu sistema de lordes.

    E sim várias cidades independentes brigando entre si.

    Algumas não erem monarquias, mas repúblicas como Veneza e Florença.

    Isso levava a existência de várias companhias de mercenários trabalhando em prol de quem pagasse mais.(grupos de aventureiros?)

    Maquiavel era abertamente contra deixar isso tudo na mão de mercenários independentes e por isso gastou uns bons anos criando uma milicia para sua cidade.

    No entanto teve que recrutar apenas camponeses que habitavam fora do centro urbano, pois os habitantes temiam que se formada com gente da cidade, a escolha do pessoal poderia ser influenciada por uma das famílias locais e ela acabaria se tornando uma arma para essa determinada facção.

    Eu recomendaria a leitura de "toda a obra do cara", mas sendo pouco prático acho que você poderia dar uma olhada em "O Sorriso de Nicolau"
    (uma biografia bem divertida de ler)

    Outro livro legal é "A Arte da Guerra" (a do Maquiavel mesmo, não a do Sun Tzu!)

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  4. Em tempo: Na parte cultural como já foi dito não existia a noção de "artista" como alguém respeitado, ou a noção de "gênio", "autor" "individualidade".

    Quem inaugura isso são os grande mestres como Leonardo e Michelangelo.

    Fica de dica de filme (se já não assistiu) "A Agonia e o Extâse" sobre o último! :)

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  5. @Bernardo

    Eu vou deixar essas decisões para o futuro, por enquanto estou me concentrando na pesquisa de referências mesmo, mas é claro que, quando chegar a hora, um post sobre minhas decisões sobre as raças e monstros é mais que garantido.

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  6. @Davide

    Mas o absolutismo do Antigo Regime só foi possível com a diminuição do poder político da nobreza, que a partir da Renascença fica concentrado nas mãos do monarca, suscetível à influência da burguesia porque, afinal, todos os seus empreendimentos são financiados por esta. Claro que quando o autor força um pouco com relação a velocidade desse processo, que se inicia com a Renascença e completa-se com a Revolução Francesa (que pra mim, junto da Revolução Industrial, é o divisor de águas para o fim da Renascença).

    Sobre o segundo comentário, a Renascença na Itália é o tema do capítulo que estou lendo agora no livro, falo mais sobre isso amanhã.

    E A agonia e o êxtase já está na minha lista de filmes para ver, valeu!

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  7. O monarca de fato se fortalece muito em relação a antiga nobreza feudal (que perde o poder político/militar de fato), mas traz consigo toda uma leva de burocratas que o cercam, os tais "nobres palacianos".

    Para ocupar determinados cargo políticos e militares não basta ter grana. É preciso também ter nome e um título de nobreza.

    Por isso a profissão de mosqueteiro na França ficou muito em voga durante certo tempo. Ela era uma das únicas aberta a nobres com títulos menores e era uma ótima chance de ficar visível e talvez cair nas graças do Rei. =)

    (Ou do Cardeal, dependendo da época e da companhia que o mosqueteiro trabalhava...)

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