quarta-feira, 27 de março de 2013

Os mitos do RPG: machismo, preconceito e arrogância

Existem uma série de mitos RPGísticos que se espalharam tanto e foram tão martelados por gente que gosta de se sentir superior que acho que vale usar este espaço para fazer uma pequena série de declarações que alguns vão considerar chocantes, mas precisam ouvir.

O RPG não te torna mais inteligente. Ser ou não inteligente é mérito pessoal, não de um jogo. Existem pessoas inteligentes e outras nem tanto que jogam RPG.

O RPG não torna ninguém moral ou eticamente superior. Sério, pessoal, costumes morais e éticos independem de um jogo que você por acaso ficou conhecendo durante a sua vida. Uma outra variação inclui o mito anterior também e diz que todo RPGista é inteligente e esclarecido. Como se capacidade cognitiva e ética andassem necessariamente juntos.

O RPGista médio não lê muito. Não. Na real, na maioria dos grupos você tem um ou dois caras que leem os livros e o restante só aparece no fim de semana para jogar e nem traz história ou ficha pronta.

Tem pouca mulher RPGista porque os homens RPGistas são em geral machistas. O RPGista médio não é diferente do brasileiro médio: pouco instruído, machista e preconceituoso. É só ter mulher na mesa para o cara começar a agir feito um animal no cio, ou pior, como um completo babaca. Piadinhas machistas, encaradas completamente sem vergonhas e até passadas de mão fazem a maioria das mulheres desistir no primeiro contato com a maioria dos grupos. Isto quando elas chegam a jogar. Dica, quando uma mulher recusa um convite para jogar pode não ter nada a ver com o jogo, mas sim com o fato de você ser um babaca machista.

E por fim: o RPG não te torna uma pessoa melhor. Ninguém vira autor de mangá porque leu 3D&T ou físico teórico especialista em física quântica porque leu Mago: A Ascenção. Sua filiação política não foi definida porque você jogou como Anarquista em Vampiro: A Máscara. O RPG é só um jogo. Talvez alguns aspectos dele até podem influenciar a sua vida, mas apenas porque eles interagem com o conjunto de eventos e escolhas que rolaram na sua vida e cuja interação realmente definem o que você é. Mesmo que você dê crédito ao RPG por algum mérito pessoal, na verdade ele é exatamente isto, pessoal. O RPG não faz nada por você que você mesmo não seja capaz, como todas as outras coisas do mundo. E acima de tudo, ninguém é melhor do que outra pessoa por jogar RPG. Nunca. E simplesmente por pensar assim já demonstra que você na verdade é o pior que a humanidade tem a oferecer.

9 comentários:

  1. Ó...

    "É só ter mulher na mesa para o cara começar a agir feito um animal no cio, ou pior, como um completo babaca."

    Pra mim isso é mito também. Ou pelo menos não é regra.

    O que rola IMHO é que RPG requer vários amigos e certa regularidade e compromisso pra jogar. Em geral, na idade em que a turma começa a se interessar pelo jogo (entre 13/17) todos tem grupos de amigos já formados, seja do colégio, seja a turma da rua, enfim. São estas mesmas pessoas que vão jogar juntas.

    Até uns anos atrás, em geral esses grupos de amigos era bem homogêneo até por uma questão de gostos e interesses que eram bem distintos entre os gêneros. Atualmente - da forma que eu observo, ao menos - já não é mais assim. Com a internet, gerou-se um tipo de "geração nerd" que curte praticamente as mesmas coisas. E estes grupos mistos também são os que contam com garotas que jogam.

    Claro que de uma forma geral cada um ainda anda com os seus. Somando-se a isso que a maior parte dos jogos de RPG tem os moleques como público alvo, o mito de que "garota não joga" ganha força.

    Algo que eu observo bastante é que a maioria que começa a namorar para de jogar por uns anos, e depois volta com a namorada/esposa pra mesa. Nas mesas dos caras que já passaram dos 20 isso é bem comum. ^ ^

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    1. Não melhorou muito, Marlon. Na real, meio que reforçou o argumento de que RPGista em geral é machista.

      Ou tu quer dizer que separar as pessoas em grupos distintos por gênero onde cada um tem interesse distintos é muito diferente de comprar coisa azul para menino e rosa para meninas?

      Ou seja, o que tu descreve é basicamente essa mentalidade machista agindo para separar o RPG como uma atividade para meninos (e tu faz bem em falar dos jogos que basicamente são feitos por homens para "homens" ─ na verdade o que a sociedade acha que um homem deve ser).

      Em vez da internet, acho que tu faria por bem colocar parte dessa "culpa" de mais gurias estarem jogando RPG no avanço dos preceitos do movimento feminista¹ na sociedade atual, afinal, ele é o responsável por espalhar essa ideia maluca de que menina pode ter interesses "masculinos" porque é só um interesse e não uma definição de gênero.

      ¹ ─ Aliás, nem curto muito usar feminismo, ficaria bem melhor como movimento "igualitário" ou coisa assim, mas enfim.

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    2. Não melhorou muito, Marlon. Na real, meio que reforçou o argumento de que RPGista em geral é machista.

      Será cara? Não sei, talvez eu tenha a tendência de ver as coisas sob a minha ótica... já me disseram uma vez que minha visão das coisas é meio restrita porque eu vivo isolado aqui na roça. ^ ^

      Note que eu não nego que existem pessoas imaturas que não perdem uma chance de pagar de macho em qualquer situação. Só não concordo que seja este o motivo de existirem menos meninas do que meninos jogando como você afirmou ali dizendo que “Tem pouca mulher RPGista porque os homens RPGistas são em geral machistas”. Talvez este seja o motivo de existir tão poucos grupos mistos de jogo. Mas mesmo assim, explicaria só um detalhe no universo de jogadores e não pode servir de parâmetro pro todo.

      Mas só pra concluir o pensamento... convenhamos, é uma melhora gritante entre "a culpa é dos babacas no cio" pra "grupos sociais com interesses em comum distintos"... né?

      Ou tu quer dizer que separar as pessoas em grupos distintos por gênero onde cada um tem interesse distintos é muito diferente de comprar coisa azul para menino e rosa para meninas?

      Ouso acreditar que uma coisa não tem nada a ver com a outra, pelo menos em relação ao que estou argumentando aqui. Até porque esse é um tema muito mais amplo pra ser definido apenas como algo preto no branco (ou rosa no azul) num papo de blog.

      Pra começar eu não estou separando pessoas. Pessoas é que “se separam” buscando interesses em comum. Você não veste mais teu filho de azul ou tua filha de rosa aos 16 anos. Nem pinta o quarto deles dessa cor. Porque são eles que optam por algo que gostam nessa idade. E eles gostam de coisas que lhes identifiquem quanto grupo. Se o grupo deles achar legal andar de rosa nessa idade, então é bem provável que eles andem de rosa. Se o grupo deles achar legal jogar RPG, então eles vão jogar RPG. E isso extrapola o gênero.

      Quanto ao movimento feminista, não vou entrar nessa linha de conversa porque ai já vai fugir completamente do assunto. Mas a linha geral continua válida: a internet gerou uma nova gama de possibilidades para a formação de grupos de interesse que antes era muito mais restrita. Então hoje é mais fácil você encontrar grupos mistos com interesses em comum do que haviam antes dela existir.

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  2. Concordo com vc nessa parte. Aliás, meu grupo nunca teve necessidade nenhuma dessa bobagem machista de cão no cio de ter uma mulher jogando na mesa. Todo mundo sempre teve namorada e sempre preferimos deixar o RPG para um ambiente em que os amigos se encontram e jogam, se divertem e conversam sobre trivialidades.

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  3. " É só ter mulher na mesa para o cara começar a agir feito um animal no cio, ou pior, como um completo babaca. Piadinhas machistas, encaradas completamente sem vergonhas e até passadas de mão fazem a maioria das mulheres desistir no primeiro contato com a maioria dos grupos."

    Ô se eu passei por isso. Já tive que armar barraco porque tentaram passar a mão na minha coxa. E olha que eu não sou nenhuma novata, tenho 30 anos de idade e 20 de RPG...

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    1. Agora imagina quantas gurias devem passam por isso e abandonam o RPG, afinal, é o jogo dos "moleques da mão-boba", não é mesmo?

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  4. Esse tipo de artigo é bem interessante pra quem se acha "le fodón" por ter jogado GURPS por vários anos e acha pessoal do 3D&T ruim ou algo do tipo. Tem gente que não quer se juntar a um grupo para jogar RPG, quer mesmo mostrar que está ali por ser o melhor que o mundo tem a oferecer e todos os outros são uns merdas por estarem ali perdendo tempo se divertindo com os amigos; sendo que ele tá ali também...

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    1. Conheço duas correntes de pensamento sobre esse tipo de gente. O Shingos, também conhecido como Jesus do RPG entre os amigos, acha que no geral RPGista é babaca assim mesmo. Já eu acredito que gente em geral é babaca, e RPGista, apesar de protestos em contrário, também é gente, portanto, babaca. XD

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  5. basta ver tormenta ou hi brazil
    racismo e machismo puro

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