quinta-feira, 17 de maio de 2012

A Paizo não entende financiamento coletivo?

Recentemente a Paizo Publishing, a editora que um dia foi uma empresa terceirizada pela Wizards e hoje bate em vendas o carro-chefe em RPG da antiga patroa, abriu uma campanha de financiamento coletivo no Kickstarter através de sua subsidiária GoblinWorks. Para quem vê a página da campanha e os mais de oitenta mil dólares já angariados pelo projeto pode se perguntar por que diabos esse título provocativo, mas calma, tenho meus argumentos.

Minha primeira observação é o objetivo do financiamento, um demonstrador de tecnologia para o futuro Pathfinder Online, que apesar de por si só ser válido me leva a compreender um problema fundamental com o entendimento da Paizo e sua subsidiária sobre financiamento coletivo: a participação dos financiadores coletivos é secundária, em vez de central. Ou seja, a Paizo não fez essa campanha com o objetivo de fazer seu MMORPG acontecer através de uma comunidade de financiadores, mas com o objetivo de usar o apoio dessa comunidade para obter financiamento junto a fontes tradicionais.

É uma (estúpida) inversão completa do objetivo do próprio Kickstarter e outros sites de financiamento coletivo  de tirar os investidores comuns da equação necessária às startups e fornecer liberdade criativa quase completa. Essa jogada causa problemas em muitos níveis, já que a Paizo deseja fazer um MMORPG no estilo sandbox, com objetivos diversos para jogadores além do matar/upar/pilhar/zoar os noobs dos MMO tradicionais, e investidores tradicionais são conhecidos por, bem, serem tradicionais e não gostarem de mexer em fórmulas que dão certo, de maneira que eles não apenas desistem de uma liberdade criativa que teriam se escolhessem criar o jogo junto a comunidade, como também praticamente assinam uma sentença de morte para a maioria dos seus objetivos com o jogo em si.

As recompensas oferecidas também são bastante estúpidas. A editora parece não compreender que financiamento coletivo não é caridade em troca de uns presentinhos, mas um verdadeiro investimento onde você espera, pelo menos, receber o valor investido de volta ao final do projeto. Entre recompensas ridículas como receber um ícone no fórum da produtora identificando você como um (otário) contribuinte de trinta dólares, e absurdas, como a recompensa de cinquenta dólares em que você recebe um livro de 64 páginas que poderia adquirir por dez dólares na sua loja de RPG local, muito pouco se salva, a recompensa mais interessante, fazer parte do grupo de testes da versão beta do jogo, exige uma contribuição de absurdos mil dólares!

Para terminarmos isto, lembra de você duvidando de mim por causa do "sucesso" da campanha? Bem, vamos lembrar que Pathfinder é o RPG mais vendido dos EUA nos último dois quadrimestres segundo o ranking do ICv2, batendo o legendário D&D, de tal forma que te pergunto, meu querido, um jogo que vende dezenas de milhares, talvez centenas de milhares, de unidades e tem apenas pouco mais de mil e quatrocentos apoiadores em pouco mais de uma semana de campanha não é um pouco estranho? Até mesmo Violentina fez mais sucesso em termos relativos que essa campanha da Paizo, e era apenas um jogo desconhecido de um autor desconhecido até então! Ainda coloco muita fé na qualidade dos produtos da editora, mas espero que depois deste fiasco a Paizo tente compreender exatamente como funciona o financiamento coletivo antes da próxima tentativa, não acham?

2 comentários:

  1. Também achei estranho o Kickstarter que estão fazendo, mas o que me incomoda não é nem que os contribuintes estão investindo em algo que um dia pode virar um jogo, se uma série de fatores que eles não tem controle se tornarem realidade.

    É que eles pegaram o Ryan Dancey pra cuidar do negócio. O "Steve Jobs dos MMOs" (segundo ele mesmo) é um cara que já fez uma dúzia de bobagens e conseguiu criar problemas com uma vários ex-colegas e clientes.

    E colocam um projeto de um novo MMO nas mãos desse cara? Ah, não. Torço pra que eles consigam desenvolver alguma coisa, mas eu duvido bastante que vá sair um jogo disso.

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  2. Vai ver essa campanha bizarra de financiamento coletivo tenha sido dele. O pessoal da Paizo, em geral, sempre me pareceu entender a internet um pouco mais que outras editoras estadunidenses e essa campanha nem parece coisa deles.

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